terça-feira, 25 de outubro de 2011

Michael Jackson: Quando o homem virou mania



Qual foi o momento em que o cantor virou ícone? Homenageamos o astro buscando a origem do mito.

Após a recusa do pedido, Berry Gordy, chefão da gravadora Motown, intervém:
- Michael, será maravilhoso se você cantar com seus irmãos nesse especial de tevê da Motown. Por favor, venha!
- Tudo bem, mas com uma condição. Eu quero cantar uma música nova minha. Sozinho.

A verdade é que nada seria igual depois daquele 25 de março de 1983, data da gravação de Motown 25, comemoração do aniversário de criação da maior gravadora de música negra da História, que reuniria grandes nomes da casa, alguns se apresentando juntos depois de longa separação. No caso da família Jackson, era a primeira vez lado a lado em sete anos desde que saíram da Motown para a CBS. Eles não sabiam que o mundo veria o início de uma trajetória incomparável. Mas vamos olhar para trás um pouco.



Berry Gordy, Michael Jackson e a produtora Suzanne de Passe

Michael, até então, sempre foi associado ao estrondoso sucesso que fez com o Jackson 5, composto por ele e seus irmãos mais velhos, tendo começado a carreira aos cinco anos de idade. Apesar de ter gravado álbuns “solo”, eram encarados como parte da mesma franquia. Ele ainda era o “Little Michael”, que dava um banho de carisma e performance no resto da banda. Mas cresceu e gravou em 1979, com controle criativo total, Off The Wall, uma pedra preciosa de álbum que até hoje agita pistas ao redor do planeta. Essa independência só foi possível depois que Michael se desvencilhou do pai, Joe Jackson, que, sempre se soube, abusou do trabalho dos filhos em causa própria. Joe, demitido do cargo de empresário pelo filho mais talentoso, não seria mais empecilho. Se o próximo trabalho seguisse a mesma trilha ou evoluísse dali, já seria uma bela discografia. Mas Michael não estava satisfeito. Revistas não o chamavam para entrevistá-lo, o álbum não foi reconhecido ou premiado o bastante para que ele ficasse feliz. Faltava alguma coisa.



Capa de Off The Wall, já com as meias brilhantes.




Corta para 1982. Durante as gravações do que viria a ser o mais vendido disco de todos os tempos, Michael bate o pé diz que a introdução de uma das faixas será “longa assim mesmo”, pois é o que o faz querer dançar. A Rod Temperton, co-autor e Quincy Jones, que queria cortar a música da lista, só resta acatar. Enquanto isso, o cantor passava boa parte dos ensaios treinando seus passos ao som dela.

Tempos depois, com o disco já nas lojas, no fim de 83 Michael lança o vídeo homônimo, Thriller, que não pode ser definido com algo menos do que revolucionário. Quatorze minutos de uma homenagem aos filmes de terror (dos quais o astro era fã), a clássica história de “mocinha-e-mocinho-fugindo-do-monstro”, com uma surpresa no fim (o mocinho era o monstro). John Landis, de Um Lobisomem Americano em Londres, na direção e o mestre maquiador Rick Baker transformando o cantor em um lobisomem e depois no líder de um bando de zumbis. O conceito do disco se concentra ali, fugindo totalmente do clichê de um punhado de canções sobre amor e sofrimento acompanhando imagens sem apelo algum para se firmar como um entretenimento audiovisual com idéias inovadoras. Pensando bem, com uma estrutura dessas, não seria difícil fazer um grande barulho para qualquer artista. Pensando melhor ainda, se não fosse por Michael, não teríamos os itens listados acima muito menos a coreografia arrasadora do fim do mini-filme, como ele gostava de chamá-lo. Explicada a dedicação à dança tanto quanto à música. Ou quase.




De volta à março de 1983, Michael, segundo relatos, treina incessantemente sua apresentação na cozinha de casa. Estava mais perfeccionista do que nunca. No dia 25, os Jacksons entram em cena no Pasadena Civic Auditorium, em sexteto dessa vez, para cantar um medley de alguns de seus sucessos. Todos muito animados como sempre, menos Michael, que geralmente era sorridente, agora tenso e compenetrado:







O medley termina. O público aplaude muito e os irmãos de Michael deixam o palco. Ele fica e em poucas palavras, tenta definir o estado atual de sua vida:





“Aqueles foram os bons e velhos dias. Eu amo aquelas canções, foram momentos mágicos com todos os meus irmãos, incluindo Jermaine. Mas, aquelas são boas canções, gosto bastante delas. Mas, especialmente, eu gosto… das novas canções.”


Michael, de terno preto reluzente, meias, camisa e a luva esquerda prateadas cintilando, se abaixa e pega um chapéu fedora no chão, colocando na cabeça, incorporando outra persona. A bateria que se tornaria inconfundível ressoa simultaneamente. A mão enluvada na cintura, que mexe fazendo lembrar dos tempos que filmavam Elvis “The Pelvis” apenas da cintura para cima, evitando a escandalização da América. A letra incomum à época, falando de uma garota que dizia ter um filho dele. E, finalmente, ele dança. Como uma versão agressiva de Fred Astaire, deslizando em frente à platéia. Some o “pequeno Michael”, dando lugar ao “Rei do Pop”. Sozinho como queria. Sem truques de câmera, efeitos especiais ou maquiagem, em frente ao público presente e, dias depois, para milhões de telespectadores.



Anos e anos de sofrimento, discussões, noites sem dormir e diversos abusos tinham uma compensação enorme naquele dia. Michael, no entanto, extremamente caprichoso como sempre, achou que não foi perfeito como deveria, que tinha que ter ficado mais alguns segundos na ponta dos pés, blá blá blá. Assistindo a ele, tudo parece muito fácil de fazer. “Fácil” como foi vender mais de 100 milhões de cópias de Thriller. “Fácil” como fazer um disco e turnê seguintes vitoriosos. “Fácil” como conseguir ser, aos 30 anos de idade, chamado de Rei. Como ter sido alvo de tantas especulações e acusações e ser ridicularizado depois de ter encantado o planeta.

Todos os que viveram os anos de seu auge o ouviram e muitos se influenciaram. Michael praticamente inventou o atual cenário pop estratosférico de fama, estrutura e dinheiro, hoje em dia em fase decadente. E talvez só Elvis tenha uma gama tão grande de sósias que o homenageiam com seu próprio corpo e voz 24 horas por dia (sem contar, claro, Roberto Carlos e Raul Seixas no Brasil). Aliás, nem é necessária a parafernália, afinal, quem nunca arriscou um rodopio, uma quebrada de quadril, um moonwalk, que atire o primeiro vinil empoeirado.

As próximas gerações ainda serão influenciadas por seu talento, humildade e força de vontade. Que finalmente ele fique em paz.



Farewell, Michael.



Fonte: http://100grana.wordpress.com

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