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sexta-feira, 9 de março de 2012

Peter Pan do Pop



Não existia convenção social para esse homem. Costumes, nada disso o afetava. Ele era uma aberração mesmo. A imprensa sempre teve razão. Só uma aberração conseguiria ser tão trágica e dolorosamente individual. Se não era uma lei de Deus (a lei moral, para ele), não há regra neste mundo que ele não tenha violado. Na verdade, nem se tratava de violar. Elas simplesmente não existiam para ele. Por isso, ele estava tão fora do alcance da nossa compreensão.

Olhar para ele era ter que encarar nossos limites. Por que somos como somos se não é necessário que o sejamos? Pois é, através dele é que descobríamos que não era necessário que o fossemos: "E se eu quiser colocar uma pinta aqui [ele dizia apontando para a testa], e se eu quiser um terceiro olho?" A gente teria que dizer: "É, você pode, eu é que não dou conta de tolerar isso". Isso é que doía tanto em tantos. Isso é que o fazia tão odiado. Daí que eu fui aprendendo a razão de ser de tanto ódio contido naqueles meus primeiros recortes. O executivo da gravadora ordenava que ele tirasse fotos com alguma super-modelo, ele posava abraçado com o Mickey Mouse na Disney! Esse era o Michael. O único verdadeiro subversivo do pop. Por isso, o Peter Pan do Pop.
Não é que ele tivesse um intelecto infantil, fizesse beicinho e birrinha sem motivo. Nunca tive notícia de nada nesse sentido. Ele pregava a inspiração nas crianças, ao mesmo tempo em que esclarecia que não estava dizendo para fazermos criancices. Ninguém entendia! A criança dele era meio que um bom selvagem: a pessoa que ainda não foi determinada por convenções que soarão como dogmas instransponíveis, quando o próprio mecanismo da socialização tiver sido encoberto para nossos olhos.
Ele era o Peter Pan. Nós, sua legião de fãs, os garotos perdidos. Liz Taylor, sua Wendy (e eu que achava que ele é quem sofreria a morte dela). No fundo, todo mundo sabia como a história terminaria. Peter não pode crescer. Os garotos perdidos têm que crescer. Eles se separam no final. Peter volta sem eles para Neverland. Mas a visita de Peter em nossa janela à noite, nossa temporada na Terra do Nunca... nada foi em vão. Nós ficamos, ele se foi, envelheceremos, ele não! Mas será que cresceremos mesmo? Mentira! Só guardaremos as aparências. Antes de partir, ele ensinou o essencial: "Neverland é um lugar na mente". Aquela que ele construiu na matéria era só um modelo sensível para a gente entender a idéia regulativa. A vida dele era também um modelo sensível dessa idéia regulativa. Agora a gente entendeu. A missão dele está cumprida. Podemos ficar para sempre na Terra do Nunca.

por Andréa Luiza Bucchile Faggion


Fonte:Facebook Rosana MJJ

Um comentário:

  1. A palavra emocionante seria pequena para descrever o quão lindo é este texto...

    Ass: Rosana Mjj

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