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terça-feira, 25 de outubro de 2011

Michael na Terra do Nunca


Você consegue identificar a perfeição quando olha para ele’

A voz flutuando pela Costa era tão suave como a de uma criança. Era Michael Jackson, ditando as regras para a nossa entrevista.
A CBS Internacional já havia me avisado sobre certas questões, como comparar os Jacksons a outras famílias do show business. Claro, eu me precavi, e não vou perguntar a ele o que ele pensa sobre Baudelaire ou o Afeganistão. Mais alguma coisa? Sim. Me disseram para esperar um telefonema direto de Michael, e aqui ele estava – ao vivo de um telefone mono da Bell. Com uma pequena condição.
Ele queria que eu fizesse as perguntas para a sua irmã. E então ela as repetiria para ele. Ele disse que isso tinha a ver com “uma coisa que eu acredito”.

Oh. Você quer dizer então para eu deixar as perguntas e pegar a fita mais tarde, mas que eu não esteja aqui durante a entrevista?

Não, ele disse. Eu poderia ficar e ele responderia para mim.
Hmm, eu pensei, esse passa-e-repassa é novo para mim. Do que ele possivelmente tem medo?
Claro, eu disse, o que te deixar mais confortável.
Estranho.
Marcar uma entrevista com Michael Jackson é um negócio difícil, especialmente depois dele ter sido citado de forma equivocada por uma grande revista americana. Só um bom bocado de paciência e educação por um longo tempo fizeram que essa entrevista acontecesse.
Dizem que os Jacksons venderam mais discos do que qualquer outro grupo com a exceção dos Beatles, mas foi sempre Michael quem teve o maior carisma. Em 1970, quando ele era um precoce gênio de 11 anos, cantando e dançando com uma sofisticação para além da sua idade, Michael tinha um charme que as garotas dez anos mais velhas do que ele não conseguiam encontrar em seus namorados. E na sua estatura de criança, ele parecia bem inofensivo. Ao final dos anos sessenta, imperava o sentimento do Black is Beautiful, mas também um pouco assustador para os brancos.
Com Michael, no entanto, o Black também podia ser bonitinho, talvez pela primeira vez em uma década.
Em 1979, o álbum Destiny da família recebeu platina dupla e eles dizem que arrebatam 10,000 fãs todas as noites em sua turnê pelos estádios dos Estados Unidos. Michael, no entanto, chegou em quase três milhões de cópias vendidas com Off The Wall, completamente sozinho. No American Music Awards de janeiro, ele empatou com Donna Summer como o mais premiado, vencendo Melhor Vocalista Masculino, Melhor Álbum de Soul e Melhor Single de Soul (pela sua composição Don’t Stop ‘Til You Get Enough).
Agora ele concorre por Melhor Gravação de Disco Music e Melhor Performance Vocal de R&B no Grammy. Off The Wall também foi bem recebido pelos críticos, conseguindo aprovação na abafada Rolling Stone e lugar no ultra-preconceituoso Top 20 de final de ano da Village Voice. Pelo visto, parece que não há quem não goste de Michael Jackson.
Aos 21, Michael passou de “bonitinho” e se tornou um homem bem bonito. Você o vê na TV, saindo da fumaça em meio a lasers verdes, com sua roupa brilhante e de repente, aquele garotinho se transformou em um príncipe totalmente crescido. A presença dele no palco é fabulosa – cada gesto lançado com forte autoridade, olhos piscando por trás dos longos cílios, e um sorriso radiante que não é deste mundo – e você então entende porque estão começando a chamá-lo de “o Sinatra negro para os anos Noventa.”
É natural imaginar o quanto desse fogaréu de emoções é legítimo e o quanto é fabricado. Se ouve que Michael é uma pessoa muito família, muito religioso, e muito correto. Alguns até dizem que, mimado pelo seu trabalho e sua família, ele é antissepticamente isolado como um menino em uma bolha de plástico.
“Eu não compro essa história,” diz uma cínica editora de fanzines no meio do seu quarto copo de scotch. “Como ele consegue evitar todas as garotas que o perseguem?”
Curiosidades vulgares de lado, o rapaz recebe muita atenção – e mesmo assim, ele parece ter preservado um grande charme. No final, eu acabei descobrindo o seguinte: Michael Jackson parece ter escapado das torturas comuns da adolescência com uma rara virgindade de alma – não apenas intacta, mas crescente.
O nosso Cadillac cinza subiu as montanhas de Hollywood e deslizou até o vale de São Fernando.
Não tão longe do alvoroço de Encino, nós avistamos um portão de ferro aberto, tocamos o interfone para os habitantes tiraram o Doberman do jardim, e então adentramos a estrada para a confortável mansão de classe média alta, mas certamente não o palácio que eles poderiam morar se quisessem.
Janet de treze anos – ela mesma uma estrela de TV no seriado Good Times – atende a porta como uma criança responsável, seu pequeno colar de ouro encoberto pelas suas tranças à lá Bo Derek. Os pais não estão por perto, não há empresário e nem segurança. Na verdade, eu e Shirley Brooks da CBS (que gentilmente pede licença para assistir Rockford Filex pelas próximas duas horas) somos o mais próximo de “adultos” à vista.
E aqui cheeeeeeeeeeeeega Michael! Quietamente, ele atravessa a sala para nos cumprimentar, o carismático Michael Jackson parece ser um jovem gentil, doce e calmo. Ele está usando um pulôver laranja, calças escuras e um par de sapatos grandes e reluzentes que te dão a impressão que tem um filhote ou um potro não inteiramente crescido nos pés dele.
Michael me lembra que nós concordamos em realizar a entrevista com sua irmã intermediando como intérprete, e nós três nos dirigimos para a brilhosa sala amarelo-lima. Eu já decidi começar com as perguntas mais suaves possíveis, assim Michael terá tempo para ver como sou de fato humano – mas Michael ainda não sabe disto. Ele está batendo os joelhos um no outro enquanto eu ajeito o gravador, até que Janet – sentada no nosso meio – dá uma pancadinha suave nele. Ele sorri e relaxa. Ao longo da nossa conversa, ela mexe no cabelo dele ou esfrega seu braço, dando confiança.
Então vamos começar com Quincy Jones – todo mundo ama o trabalho da produção dele em Off The Wall. Quincy lembra-se de ter conhecido Michael na casa de Sammy Davis quando o garoto tinha dez anos, e a primeira lembrança que Michael tem de Quincy data de uma festa em homenagem a Muhammad Ali, mas o encontro “de verdade” deles foi quando eles trabalharam juntos em The Wiz, em 1978.
Er, eu gostaria de saber como Michael decidiu que Quincy seria o produtor do seu disco.
“Como você decidiu a escolha de Quincy?” Janet ecoa.
Michael sorri. Bom começo.
“Um dia eu liguei para o Quincy para perguntar se ele poderia sugerir alguns bons profissionais que gostariam de trabalhar no meu álbum. Foi a primeira vez que eu compus e produzi inteiramente as minhas músicas, e eu estava procurando por alguém que me daria esta liberdade, e que fosse alguém ilimitado musicalmente. Quincy me chama de ‘Smelly’ [Fedido], e ele disse, ‘Bem, Smelly, por que você não me deixa produzir?’ Eu disse, ‘Esta é uma ótima idéia!’”
Michael ri como se ele ainda não acreditasse no quão ingênuo havia sido.
“É que soou tão falso – como se eu estivesse tentando fazer ele dizer aquilo – mas eu não estava. Eu nem pensei nisto. Mas Quincy consegue fazer jazz, ele faz trilhas-sonoras para filmes, rock ‘n’ roll, funk, pop – ele faz todas as cores, e esse é o tipo de pessoa com quem queria trabalhar. Eu fui até a casa dele tipo no dia seguinte, e nós começamos a montar juntos.”
Michael está orgulhoso da sua abordagem “colorida”, e o boato da hora é que ele está pensando em boicotar a premiação Grammy, apesar de suas duas indicações, para protestar por ter sido incluso nas estreitas categorias de Disco/R&B. Agora ele nos conta a variedade musical que escuta, como Supertramp, música folk, música clássica, música espanhola antiga, Renascentista.
“Eu tenho todo tipo de discos e K7s que as pessoas nunca imaginariam que seriam meus. Eu amo Some Girls. Claro que ele [Jagger] se encrencou com aquela coisa que ele disse. Eu não gosto de vulgaridade. Realmente, nenhum pouco.”
Outro artista ao gosto de Michael é Ron Temperton, que deixou de excursionar com o Hestwave para compôr músicas como Rock With You, Off The Wall e Burn This Disco Out.
Quincy teve muitas idéias boas para o Michael?
“Quincy deu boas idéias a você?” Janet sussurra.
“Uma grande coincidência aconteceu neste álbum. Sabe, a música do Paul McCartney que eu gravei, Girlfriend? Eu conheci Paul McCartney no Queen Mary, e então o encontrei novamente numa festa que ele deu na casa de Harold Lloyd aqui em L.A. Ele e Linda vieram até mim e disseram ‘Nós escrevemos uma música para você‘, e começaram a cantar: ‘Girlfriend, da-da-dee-dee-dee-dee.’ Eu disse, ‘Oh, eu gostei muito, quando podemos nos encontrar?‘ Então ele me deu o telefone dele na Escócia e em Londres, mas nunca conseguimos nos encontrar. Quando eu vi, ele já havia gravado a música no álbum dele, London Town. Então um dia eu fui até a casa de Quincy e ele disse, ‘Sabe que música seria ótima pra você? Essa música do McCartney chamada Girlfriend.’ Eu pirei.”
Michael ri da simetria do sucesso.
“Paul McCartney me mandou um telegrama há não muito tempo atrás me dizendo que havia amado a minha versão, mais do que a dele, e agora nós vamos gravar algumas coisas para o próximo álbum dele. Vamos compôr duas músicas juntos — este é um dos meus próximos projetos após o álbum dos Jackson em março. Se eu cantar também vai ser legal, mas isso é com ele, porque o disco é dele.”
Michael está gostando mesmo de trabalhar dia e noite, como ele diz em sua música? Janet repassa a pergunta.
“Eu gosto muito,” ele concorda.
Working Day And Night é muito autobiográfica em vários sentidos, embora eu tenha estendido ao ponto de fazer o papel de um cara casado cuja esposa me faz mudar. Mas não é trabalho como escravidão. Eu amo, ou não teria sobrevivido até aqui.”
Até aqui. Michael começou entretendo locamente em Gary, Indiana, quando ele tinha seis anos de idade, e após 15 anos ele é provavelmente o astro infantil que durou mais tempo desde Shirley Temple. Criado sob os holofotes, este cara cresceu com magia. Não existem performers mais naturais do que Michael Jackson!
A sua performance no palco é espontânea?
“Eu vou te dizer com toda a honestidade divina,” ele diz, esquecendo de esperar Janet falar. “Eu nunca entendi o que estava fazendo no começo – eu apenas fazia. Eu nunca soube como cantava. Eu não tinha controle sob isso, isso apenas se criou. Eu amava fazer o que fazia, no entanto. E eu amava assistir os outros cantarem e dançaram também.
“A minha dança vem espontaneamente. Algumas coisas eu já faço há anos, então as pessoas marcaram como se fosse o meu estilo, mas tudo são reações espontâneas. As pessoas deram nomes a certas danças em minha homenagem, como o giro que eu faço, mas eu nem consigo me lembrar como eu comecei a fazer o giro – veio naturalmente.
“Não acontece nada se eu entrar numa sala e tentar pensar em algo novo. Eu aprendi muito apenas ‘brincando’ na minha privacidade, em casa. Eu acho ótimo acordar de manhã e ter esse grande espelho no seu quarto para ensaiar.”
“Eu amo todo o mundo da dança, porque a dança é realmente a emoção através do movimento corporal. E como seja que você se sente, você trás aquele sentimento de dentro. Muita gente não pensa sobre a importância dela, mas há toda uma questão psicológica em apenas se deixar soltar. Dançar é importante, como rir, para afastar a tensão. Escapismo… é ótimo.
“Eu realmente acredito que cada pessoa tem um destino a partir do dia em que nasce, e certas pessoas têm uma missão muito específica a cumprir. Há uma razão para os japoneses serem melhores em tecnologia, e há uma razão porque a raça negra gosta mais de música – desde a África e as tribos e as batidas de tambor.
“Eu gosto de pensar onde as coisas começaram e aprender a partir delas. Eu amo Bill Robinson e todas as pessoas do início do vaudeville, que são realmente a origem daquele tipo de dança. E eu adoro Fred Astaire. Ele é um amigo meu, e ele me fez elogios maravilhosos. Ele disse, ‘Eu sei muito sobre você, jovenzinho.’ Nós não morávamos longe dele em Beverly Hills, e ele me contou que costumava me ver todos os dias andando na minha moto, e ele buzinava. Ele me disse que ama o meu trabalho e eu estou fazendo algumas coisas que nem ele fazia quando começou.
“Pensa, quando ele se apresentou aos estúdios de cinema todos disseram, ‘Não consegue atuar, não é bonito e consegue dançar só um pouco.’ Eles disseram que ele era feio porque ele ficou careca com pouco mais de vinte anos. Em todos os filmes dele o que você vê não é o seu cabelo, sabe, ele fez um transplante. Mas ele continuou e finalmente, ele conseguiu entrar em um projeto com a Joan Crawford, e ele arrasou.
“Ele não deixava nada passar até estar perfeito. Ele ensaiva uma estrofe de uma música por toda uma semana, e ele me disse que ele e Ginger Rogers ensaiavam todo um número de dança por três meses. Quem ensaia deste modo hoje em dia? Ninguém. E deveriam. Você consegue identificar a perfeição quando está olhando para ela.
“O que eu odeio na TV e nas turnês é que sempre estamos correndo contra o tempo. No futuro, eu vou atuar e dançar em filmes do modo como deveria ser feito, não do jeito bobo e louco de fazer três números de dança em duas horas. Nos nossos especiais de TV, eu gritava de raiva disto. Eu dizia, ‘Todo esse sistema é muito ignorante! Está errado, totalmente errado!‘”
Michael Jackson grita? Bem, talvez não seja sem razão, dado o fato de que ele cresceu como uma espécie única de criatura dos palcos.
“Eu não tenho nenhum pouco de ego,” ele afirma. “Digo, todo mundo têm um ego, mas não é no sentido de pensar que eu sou grande ou que sou melhor do que esta ou aquela pessoa por causa do que eu faço. Eu sinto completa pena por quem pensa deste jeito. Eu só amo o que eu faço, e eu acredito em treinar e me aperfeiçoar. É como aquele tipo de coisa da igreja, quando um espírito entra em alguém e a pessoa perde o controle. Eu sou outra pessoa totalmente diferente quando danço.”
De fato, aquela “pessoa totalmente diferente” faz o Michael Jackson “real” se sentir tão vulnerável que ele frequentemente quer se tornar invisível na sua vida diária. Michael não tem medo dos palcos – ele tem medo da vida fora dos palcos.
“Muitas pessoas não conseguem lidar com o fato de que você é outra pessoa no palco. Elas não entendem. Elas cheguam até mim e dizem, ‘Cante pra nós um trecho de Rock With You‘ ou ‘Faça aquele giro que você fez na TV’. E eu fico com muita vergonha. Se duas pessoas chegam até mim na rua então -ooh – é difícil. É tão difícil.
“Eu não vou muito a danceterias e clubes. Às vezes você acha que vai ir ao cinema e que ninguém vai te ver, mas assim que você chega na porta lá estão a caneta, o papel e as fotos.”

(Parte 2)
Há um lugar que ele gosta de ir, no entanto. O único lugar que ele gosta é o Studio 54 em Los Angeles.
“É tão teatral e dramático,” ele diz. “As pessoas vão fantasiadas, e é como se fossem encenar uma peça. Eu acho que este é o motivo psicológico por todo esse frenesi com a disco music: você consegue se transformar no sonho do que você quer ser. Você se transforma e fica louco com as luzes e a música, está em outro mundo. É bem escapista.
“Mas eu não me envolvo. Eu gosto de ficar na sacada e observar todo o tipo de loucura e ter idéias. É importante saber como ser e como sentir uma boa platéia, saber o que a platéia quer.
“As pessoa que te vêem não agem de forma louca nem nada – elas apenas dizem ‘oi’ ou fazem um aceno e continuam a dançar – e é por causa disso que muitos artistas vão lá. É o lugar onde eles podem ser como todo mundo. Todo mundo está no mesmo nível.
“As únicas vezes em que danço em lugares assim é quando Liza Minnelli chega e simplesmente me puxa para a pista. Ela é tão agressiva.
Nós começamos a dançar e quando você começa é tão difícil de deixar a pista. Quando você entra no clima, é difícil assentar. É como se você ficasse viciado.”
Um papagaio em outro quarto está chamando “Michael!.. Michael!”. Janet é uma espectadora agora, sentanda quieta. Eu pergunto se a maioria dos amigos de Michael são artistas e ele concorda.
“Na maioria das vezes é mais fácil de se entender. Tatum [O' Neal] me liga e diz, ‘Hey, você quer ir a algum lugar?’. Ou quando Stevie me liga. Quando a grande exposição do Rei Tut estava aqui ele quis ir. É claro, ele não pode ver, mas ele consegue sentir, e ele adora ir a museus.
“Muito dificilmente eu saio, mas nas vezes em que saio eu vou porque alguém me convida. Eu adoro andar de patins, mas não gosto de esportes. Eu não dirigi por muito tempo. Eu dirijo agora, mas estou pensando em desistir. Eu não dirijo na estrada de jeito nenhum, eu fico em uma certa área e tento ser extra cauteloso. É como um hemofílico que não pode arriscar um arranhão de jeito algum.”
Aparentemente então este cara não está se divertindo por aí como Errol Flynn, apesar dos boatos falsos que ele se dispõe a comentar. De certo modo, histórias picantes soam risívelmente fora de lugar quando atribuídas a este anfitrião moderado na sala de estar de sua família.
“Eu ainda recebo tantas cartas perguntando se eu mudei de sexo, ou se eu saio com caras, ou pensando que vou me casar com Clifton Davis.”
Janet entra na conversa: “Uma menina ficou tão chateada quando sua amiga lhe contou o boato que ela pulou da janela. Eu acho que ela morreu.”
Alguns fãs de Michael têm uma imaginação tão criativa que lhe tornaram um ser neutro – perguntando coisas como Você Realmente Precisa ir ao Banheiro?
Não que este assunto preocupe muito Michael. Quando ele fala sobre ter uma família – “num futuro distante” – ele fala em adotar crianças e não procriá-las. (“Eu não tenho que trazer meus próprios filhos ao mundo.”)
“Quem disse que você tem que se casar com uma certa idade? Quem disse que com 18 anos você tem de sair de casa? Quem disse que aos 16 anos você tem que dirigir? Eu não dirigi até os 20, e eu ainda não quero. Quincy não sabe dirigir, ele simplesmente não consegue. Isto não o faz burro, só o torna alguém que não quer dirigir.”
Michael ri. Escuta, se você tivesse tido a infância desse cara, talvez você também gostaria de ser jovem para sempre.
“Um dos meus passatempos favoritos é estar com crianças – conversar com elas, brincar, deitar na grama. Elas são o motivo para eu fazer o que faço. Crianças são mais do que adultos. Elas sabem tudo o que as pessoas estão tentando descobrir – elas sabem tantos segredos – mas é difícil para elas contarem. Eu consigo me identificar com isso e aprender com elas.
“Elas dizem algumas coisas que te deixam boquiaberto. Elas chegam a níveis brilhantes, geniais, mas quando chegam a certa idade, elas perdem. Tanta gente acredita que certas coisas são infantis, mas adultos são nada menos do que crianças que perderam toda sua magia real ao não notá-la e persegui-la. Eu acredito profundamente nisso.
“É por isso que nunca usei drogas ou bebi. Nunca fiquei chapado. Já provei champagne, mas eu não bebo. Quando as pessoas fazem brindes, eu só pego um copo. Porque eu gosto demais da natureza – como ela.”
Ele aponta para Janet, que sorri.
“Eu sei que uma árvore sente quando o vento balança suas folhas. Ela provavelmente pensa, ‘Chhhhh, isso é maravilhoso’. E é assim que eu me sinto quando canto certas músicas. É maravilhoso.
“E eu ainda sou louco por pássaros e animais e filhotes. E eu amo coisas exóticas. Eu já tinha lhamas, pavões, uma ema, que é o segundo maior pássaro do mundo, uma arara, que é o maior papagaio da América Latina, faisões, guaxinins, galinhas… tudo. Agora eu quero um veado. E um flamingo. Eu acho que não quero um puma, mas eu quero um chimpanzé – eles são tão doces. Oooooh, eu me divirto tanto com os animais.”
Esse cara fala sério, amigos. Michael borbulha enquanto fala.
“Eu tenho uma relação maravilhosa com os animais, eles realmente me entendem. Quando eu consegui minhas lhamas, eu inventei um vocabulário louco e elas entendiam e vinham correndo.”
“Eu gostaria de me aventurar pelo meio dos veterinários e aprender sobre o comportamento dos animais. Cães podem ver em preto-e-branco. Cães podem até ver o vento. E a cobra rainha – o que a faz subir quando tocam a gaita?”
O sorriso angelical de Michael Jackson está se espalhando como um pôr do sol, como se ele estivesse tendo visões.
“E as baleias. Do alto da casa de verão do meu irmão, nós conseguimos vê-las.”
Michael leva sua mão até as sombrancelhas, escondendo o êxtase em seu rosto.
“Todo o instinto divino é tão maravilhoso.”
O silêncio domina o quarto. Janet gentilmente massageia o braço de seu irmão mais velho.
Finalmente eu murmuro algo sobre o seu álbum ter sido dedicado ao Ano da Criança, e o superastro de coração mole retorna à Terra.
“Eu me assusto e me machuco com muita facilidade, e os noticiários me assustam muito, mesmo que eu não esteja envolvido no problema da outra pessoa. No Lago Big Bear, eu ouvi no noticiário que este menininho teve uma festa de Natal um mês antes da data porque ele só tinha mais uma semana de vida. Claro, na mesma semana ele morreu – e aquilo me deixou tão mal.
“Eu conheço crianças como ele o tempo todo quando visitamos hospital. Os médicos e enfermeiras perguntam a elas, ‘Vocês podem ir aonde quiserem e ver o que quiserem – o que vocês querem?’ E essas crianças pedem para conhecer os Jacksons. Eles nos dizem, ‘Vocês têm que conhecer essa menina, ela vai morrer amanhã e desde que ela saiu da sala de cirurgia não pára de chamar por vocês.’ E Deus, eu me sinto tão bem por fazer parte do último sonho de alguém. Todo o trabalho da minha vida inteira é recompensado.”
Eu ouvi dizer que Michael Jackson não engana as pessoas, que quando ele diz algo extremamente sentimental, ele está sendo sincero, e eu estou engolindo isto com anzol e linha. Você tem de acreditar, assim que você passa a entender a concepção desse garoto sobre sua posição no mundo, seu senso de responsabilidade em administrar a imortalidade da celebridade.
“Eu digo às crianças, ‘Eu vejo vocês no ano que vem’ e às vezes o pensamento de que eu voltarei no ano que vem dá um pouco mais de força a elas. Isto já aconteceu muitas vezes. As pessoas me diziam que essa menina ia morrer, mas eu continuei a encontrar por três anos seguidos – e no quarto ano ela morreu. Os médicos não podiam fazer mais nada e pra mim poder ajudar a dar a ela o dom da vida realmente me fez me sentir bem.
“Algumas pessoas são escolhidas para fazer estas coisas. As crianças estão apáticas, mas quando Danny Kaye entra e conta estas histórias e faz caretas, as crianças ficam tão alegres. Bill Cosby é conhecido por seu jeito com as crianças, também. As enfermeiras e os médicos ficam totalmente maravilhados com o poder destas pessoas.
“Eu sinto um pouco a realidade da pobreza, também. Quando eu vou a um país – como as Filipinas e o Trinidad ou na Àfrica – eu saio de verdade e vou para os bairros mais pobres para conversar com as pessoas. Eu entro em suas cabanas, suas casinhas pequenas, e me sinto em casa. Eu acho que é importante saber como as pessoas se sentem diferente, especialmente no meu campo de trabalho.
“O chefe destes bairros chama a todos e conta quem está ali para vê-los, e você se sente bem em saber que eles sabem quem você é. Eu não acho que sou melhor do que as outras pessoas, eu acho que sou diferente das outras pessoas porque faço coisas diferentes.
“Eu aperto as mãos deles, e eles me seguem aonde quer que eu vá. Então eles vêem a minha câmera em volta do meu pescoço e começam a tocá-la e imploram para mim tirar uma foto deles. Quando nós fomos pela primeira vez à África, nós levamos uma câmera que tirava fotos instantâneas, e eles nunca haviam visto algo daquele tipo. Eles pulavam e gritavam.”
Evidentemente, Michael Jackson não é ignorante em relação ao mundo que rodeia a sua vida encantada. Ele parece, no entanto, conscientemente determinado a escapar para o mundo da ilusão em qualquer momento – especialmente para o mundo do cinema. Talvez isto faça sentido, se proteger sua própria alegria mantém sua habilidade de projetar o frescor que torna ele um performer tão atraente.

(Parte 3)
“Toda a coisa de ficar em frente a uma câmera e escapar para dentro de outro mundo é maravilhosa. Eu não tenho palavras para descrever o que senti filmando The Wiz. Eu nunca irei me esquecer.
“Você sabe o começo de A Noviça Rebelde, quando Julie Andrews corre para as montanhas e lança seus braços no ar? Oooh! Eu poderia comer aquilo. Aquilo me mata, é tão bom. Eu sinto aquele momento por todo o meu corpo. Você se sente lá – e essa é toda a magia dos filmes.
“Eu conheci Julie Andrews há três dias atrás, e quando ela apertou a minha mão ela apertou com força. Ela disse, ‘A minha filha Emma tem o seu álbum e nós amamos muito o que você está fazendo.’ E eu disse, ‘Você não sabe o que você fez por mim com o seu trabalho.’ Ela me influenciou tanto.
“Eu vou fazer muito mais em todo esse campo – musicais e dramas pesados. Eu conversei com Jane Fonda e ela quer fazer muitos filmes comigo.
“Diana Ross é uma mãe de verdade. Todos os dias, ela entrava no meu quarto e perguntava se eu queria alguma coisa [Michael fala do período em que se mudou para Los Angeles e foi morar com Diana Ross]. Nós a conhecemos quando fizemos um teste para Berry Gordy em sua mansão em Detroit – e é realmente uma mansão. Você acha que tudo parece grande quando você é criança porque você é pequeno, mas nós estivemos lá durante nossa última turnê e – ooh – é ainda gigante. Tem tudo lá – uma piscina, boliche, campo de golfe – e nós fizemos o teste em frente à piscina. Todos os astros da Motown estavam lá, e Diana veio até nós e disse o quanto nos amou e como queria fazer parte de nossa carreira. Então ela nos apresentou ao público. Nosso primeiro disco de sucesso foi chamado Diana Ross Presents The Jackson Five.
“Quando nós lançamos Destiny, que foi o nosso primeiro álbum em que compusemos e produzimos todas as nossas músicas, ela nos contou como estava orgulhosa do nosso trabalho. Ela me disse: estando ou não estando na Motown, ela sempre vai estar do nosso lado.
“Ela me procurou hoje. Ela está em Nova York e ouviu que eu estava no hospital – eu não sei o que fez ela pensar isto – e eu recebi uma mensagem para ligar para ela. Ela realmente se importa.
“O Mágico de Oz tem muitos segredos. Ou Peter Pan – toda a coisa dos meninos perdidos é incrível. Eles não são nenhum pouco ingênuos – eles são muito, muito profundos – você pode estabelecer as regras da sua vida a partir deles. As crianças são as pessoas mais brilhantes, por isso elas se identificam tanto com essas histórias. Pelo que mais você pode pedir, além de conquistar as suas metas e acreditar nos seus ideais?”
“Há toda uma razão psicológica em todos esses desenhos sobre o bem vencendo o mal. Temos o Super-Homem e todos estes outros heróis para que possamos sair na vida e tentarmos ser algo. Eu tenho a maioria dos filmes do Disney em video, e quando assistimos a eles somos transportados para outro planeta. Oh, eu poderia comê-los, comê-los.”
Janet está quieta como um rato enquanto seu irmão fala com o respeito de uma celebridade para outra.
“Algumas pessoas chegam e dizem, ‘Oh, você está assistindo desenhos, hãn?’ Bem, desenhos são maravilhosos! Desenhos não têm limites. E quando você não tem limites, é fantástico. Jiminy Cricket, Pinóquio, Mickey Mouse – todos estes são personagens conhecidos no mundo todo. Algumas das maiores figuras políticas vieram aos Estados Unidos para conhecê-los. Até gente da Rússia não deixa o país sem conhecer a Disneylândia.”
Michael diz que um dos seus maiores sonhos se realizou quando ele foi convidado para cantar When You Wish Upon A Star com todos os 27 personagens da Disney em sua volta. É para um especial de duas horas, apresentado por Danny Kaye, celebrando os 25 anos da Disney.
“Eu me jogo de cabeça,” ele exulta. “Na Disneylândia, você se esquece do mundo exterior. Quando você anda pela rua principal, você vê o castelo e então você vê coisas dos anos 20… e como esses dois tempos se combinam? Mas eles ficam tão bem juntos. Você desce a rua e você sente, ‘É isto! Eu vou me divertir.’ Isto é escapismo.”
Mas, uh, Michael… você não acha que é possível gostar um pouquinho demais de escapismo?
“Não, eu não acredito. Há um motivo pelo qual Deus fez o pôr do sol vermelho ou púrpura ou verde. É lindo de se olhar – é um minuto de prazer. Há um motivo para vermos o arco-íris após uma tempestade, ou uma floresta onde vivem veados. Isto é maravilha, é escapismo – toca o seu coração e não há perigo nisto.
“Escapismo e deslumbramento são influências. Fazem nos sentir bem, e permite que você faça coisas. Você segue em frente e diz, ‘Deus, isto é maravilhoso – e eu aprecio isto.’
“Como quando eu estou voando há milhas do solo em um avião jumbo e é o momento do amanhecer. Todo mundo no avião está dormindo, e aqui estou eu com a tripulação e os pilotos, porque eles me deixam entrar na cabine e -ooooh, é incrível ver o Sol nascer e estar lá em cima junto com ele.
“Eu já vi ilusões no ar que nenhum homem já viu. Nós passamos pelo Pólo Norte e estava totalmente escuro e você via esses icebergs que brilhavam com a noite. E então eu olhei para o céu e avistei cristais roxos, verdes e azuis, brilhando e girando no ar. Eu perguntei, ‘O que é aquilo?’ e o piloto disse que ele não sabia, que havia visto aquilo apenas uma vez. Eu disse, ‘Meu Deus, eu nunca vou me esquecer disto.’”
Ele pausa por um momento para prolongar sua lembrança.
“Uma vez, quando estávamos voltando da África na completa escuridão, nós estávamos lá em cima, e haviam tantas estrelas cadentes que eu achei que elas iam atingir o avião – foi incrível. Quando você está lá em cima, não há neblina, você quase não vê nenhuma escuridão. Você vê todas as estrelas do céu.
“Pilotos já me disseram, ‘Eu queria que não tivéssemos que descer para abastecer o combustível. Eu gostaria de poder ficar aqui em cima para sempre. Para sempre. Este é o lugar mais seguro do mundo para mim’. E eu entendo plenamente o que eles dizem. Quando eu estou em frente à 40,000 pessoas, é tão fácil. Nada pode me machucar quando estou no palco – nada. É quem realmente eu sou. Estou aqui para fazer isto.”
E é isto. Criado sob encantamento e nutrido nos sonhos de milhões de fás, este cara está escapando para o paraíso e não quer descer. Michael Jackson está lá em cima com os anjos, lá em cima onde você quase não vê a escuridão e enxerga todas as estrelas.
“Eu me sinto totalmente em casa no palco,”ele fala radiante”. É onde eu vivo… é o motivo pelo qual nasci…
“É onde estou seguro”.Traduzido por Bruno Couto Pórpora

Fonte: Blog “Arquivo Michael Jackson”

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http://arquivo-mj.blogspot.com/2011/02/michael-na-terra-do-nunca-melody-maker.html
Fonte: http://ledavilarim.wordpress.com/

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